sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Red Bull Air Race centralizada

A notícia da transferência da relização da prova da Red Bull Air Race do Porto para Lisboa nos próximos três anos é vista por Rui Moreira como “uma decisão de um Governo colonial”.

O presidente da Associação Comercial do Porto sustenta que o Executivo centraliza o investimento em Lisboa.

“Porto não perdeu, o Porto foi roubado, como de costume. Como já se sabia, porque já no Verão isso foi falado, o Governo resolve subsidiar o Red Bull Air Race desde que seja realizado em Lisboa, no Tejo”, disse à Renascença.

“O governo de hoje em dia é um governo perfeitamente colonial, que vive concentrado em Lisboa, que concentra todo o investimento em Lisboa e acha que nós somos seus colonos e seus súbditos e portanto não está interessado em investir aqui, principalmente no turismo. Tem-se visto o comportamento do governo relativamente ao fomento do turismo nesta região”, acrescenta.

Por seu lado, o presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, co-organizadora, com o Porto, da corrida de aviões, diz que a transferência da organização da Red Bull Air Race terá de ser esclarecida no Parlamento.

Luís Filipe Menezes suspeita de que apoios de institutos e empresas públicas irão suportar um aumento de custos de organização de 12 a 14 milhões de euros.

Daí que Menezes pretenda ver a pergunta de quem paga a Red Bull Air Race no Tejo esclarecida no Parlamento: "Sei que os grupos parlamentares vão fazer esta pergunta ao governo. Vão fazer requerimentos ao governo para esclarecer este assunto. Não tem nada contra as pessoas de Lisboa, não tem nada contra a Câmara de Lisboa. Tem contra um atitude, mais uma, discriminatória do Estado, que directa ou indirectamente, está a esquecer-se que o Porto é fundamental para o desenvolvimento económico e social do país".

No mesmo tom, vem a reacção de Paulo Morais, antigo Vice-presidente da Câmara do Porto, e habitual comentador da Renascença.

Morais só encontra uma explicação para a organização da prova se transferir para Lisboa: os avultados apoios públicos.

"O Porto é permanentemente roubado, na medida em que há uma transferência sistemática de impostos dos cidadãos da região, para a capital do Império. Isso é uma lógica que vem de sempre. Já não temos colónias, já não temos Macau, já não temo Timor, já não temos nada desse Império, só que Lisboa continua a funcionar como uma capital imperial. Quer dizer que cada vez que algum projecto com alguma notoriedade, com algum valor para o país, é claramente o caso do Red Bull Air Race, tinha de haver esta vontade por parte da capital do Império, de nos roubar, penso que é a palavra correcta, esta iniciativa aqui ao Norte. Acho que é uma vergonha", acusa Paulo Morais.


Bispo lamenta perda para a região

O Bispo do Porto, D. Manuel Clemente, afirma não poder “deixar de ter pena” pelo facto de a Air Race deixar de se realizar a norte.

Para o prelado, esta era uma maneira da “região e as duas cidades do rio ficarem mais conhecidas não só em termos portugueses, mas sobretudo, em termos internacionais: falar-se do Porto, de Gaia, Douro, do Norte”.

D. Manuel acrescenta que, agora que os meios que possibilitavam esta projecção desaparecerem, urge criar novos. O Bispo afirma desconhecer “se as pessoas envolvidas terão capacidade de inventar tão rapidamente um outro”, mas acrescenta, “que o façam!”.


Presidente da Câmara do Porto criticou a eventual transferência da Red Bull Air Race para Lisboa, acusando o poder central de falta de bom senso e de não promover o equilíbrio do país.

"O poder central podia, este ou outro qualquer, ter algum bom senso. Não é porque o Air Race sai do Porto. É porque não se conversa e não faz equilibradamente, de modo a todo o território usufruir. O poder central poderia procurar este equilíbrio", afirmou Rui Rio, no final de uma reunião da Junta Metropolitana do Porto.

Admitindo não ter confirmação oficial da transferência da corrida de aviões para a capital, o autarca diz ter sido "oficiosamente informado" da mudança, por uma fonte à qual confia "grande credibilidade".

Rui Rio não critica a empresa que organiza a prova, nem a Câmara de Lisboa, mas aponta o dedo ao Governo.

"A empresa tem todo o direito de ir para onde quer. Depois há o financiamento público e para-público, de empresas públicas, e aí devíamos fazer esta articulação. Aí nem sequer faço a crítica tão directa de dizer, roubaram, tiraram, levaram. Há um ponto antes desse: o diálogo e a concertação sobre as coisas. Eu tenho bom senso, mas não adianta ter bom senso se não fui consultado para nada", afirmou.

Para o autarca, o problema foi não ter havido uma tentativa de beneficiar todo o país com a corrida de aviões que tem atraído milhares de pessoas às margens do rio Douro.

"Em articulação, quem sabe se não se conseguia fazer alguma coisa construtiva. Pode o Air Race ir a Lisboa e voltar cá, e pode haver coisas que há em Lisboa e que podiam ser cá. Isto é saudável, mas o poder central não sabe fazer isto há muitos anos. Isto demonstra uma dinâmica do país que não é aceitável", lamentou.

Poder central "vai na onda"

Nas críticas dirigidas à decisão, Rui Rio fez questão de esclarecer que não se trata de um problema do actual Governo socialista, mas de um problema dos partidos políticos.

"Isto tem a ver com o nível de qualidade politica das pessoas. Não estou a falar deste Governo, isto é transversal aos partidos. O mais fácil é o poder central deixar ir na onda, porque é assim há muitos anos. Mais difícil é ter a coragem e força para procurar alterar e passar obstáculos", disse.

As informações oficiosas que chegaram ao autarca do Porto dão conta da transferência do Red Bull para Lisboa "por 12 milhões de euros".

Enquanto o evento sobrevoou o rio Douro, as autarquias do Porto e de Gaia pagavam 800 mil euros (400 mil euros cada) por ele, juntando-se a isso comparticipações de empresas que Rui Rio não soube contabilizar.

Questionado sobre se tentaria contactar a organização da prova para confirmar as informações, Rui Rio disse que "a bola está do lado de lá".

"A seguir às eleições, fomos contactados para saber se estávamos interessados em ter a prova no Porto e dissemos que sim", revelou.


Os deputados do PSD da Assembleia da República eleitos pelo círculo do Porto enviaram hoje uma pergunta ao ministro da Economia, da Inovação e do Desenvolvimento sobre a eventual deslocalização da Red Bull Air Race para Lisboa.

Os parlamentares questionaram o ministro Vieira da Silva sobre se seria “verdade que o governo apoia a deslocalização da Red Bull Air Race do seu actual local de realização na marginal das cidades do Porto e Vila Nova de Gaia para a cidade de Lisboa”.

“A actual realização deste evento na marginal ribeirinha do Porto e de Vila Nova de Gaia passaria, segundo fontes dos municípios atrás referidos e de vários órgãos de comunicação social, para uma qualquer zona ainda não definida na área ribeirinha de Lisboa, com avultados patrocínios de duas empresas onde o Estado detém uma elevada influência accionista e uma golden share, designadamente a EDP e a Portugal Telecom (via TMN)”, refere o documento a que a Lusa teve acesso.

A pergunta que foi hoje entregue na Assembleia da República pretende ainda esclarecer se, caso o governo apoie esta eventual mudança, também “é verdade que a Portugal Telecom (via TMN) e a EDP, duas empresas onde o Estado exerce uma enorme influência decisória, disponibilizarão cerca de 12 milhões de euros em patrocínios para o evento”.

Segundo os deputados do PSD “o investimento feito neste evento trouxe à região Norte e à região de Turismo do Douro Vinhateiro um enorme reconhecimento internacional, muito maior do que qualquer campanha publicitária até hoje lançada”.

“A possibilidade da deslocalização para Lisboa, para além de injusta e despropositada, dado o actual contexto sócio-económico regional, deita por terra todo o investimento já feito”, acrescenta o documento.

Segundo os deputados sociais-democratas “o que está aqui a ocorrer é uma clara usurpação, pela força do poder central instalado em Lisboa, do trabalho de duas autarquias do distrito do Porto que ajudaram a fazer da prova Red Bull Air Race Porto/Vila Nova de Gaia um sucesso internacional, num esforço conjunto cujos efeitos económicos positivos ultrapassaram em larga medida do âmbito territorial destes dois municípios”.

“A Região Norte vive hoje uma crise social sem precedentes, sendo urgente uma rápida inversão desta situação”, sustentam os parlamentares que defendem ainda que “não será com este tipo de medidas centralistas que se consegue inverter o rumo descendente que as condições de vida na região têm evidenciado”.


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