A lógica é...
A lógica parece simples: considerando o peso que o Norte tem na economia do país, não haverá saída da crise sem que esta região se erga. Sempre assim foi. Se não está a acontecer é por faltar liderança. Daí até à indispensabilidade de um líder é um passo que alguns não hesitaram em dar.
As coisas são mais complexas do que parecem. É verdade que o país não suporta um peso morto da dimensão da economia nortenha. É verdade, ainda, que em crises anteriores o Norte teve um papel crítico na sua superação, liderando o processo. É verdade, uma vez mais, que pela sua especialização produtiva, a região depende menos do mercado interno e nela se concentram quase todo os sectores que apresentam saldo comercial externo positivo. É, por fim, verdade que essas indústrias requerem um perfil de competências que, gostemos ou não, se adequa às qualificações apresentadas pelo grosso da nossa força de trabalho. Muitas das empresas que continuam a existir e, nalguns casos, a prosperar existem e prosperam apesar de, quando não contra, o consenso estabelecido entre muita da elite bem pensante que já há muito as haviam dado por mortas e enterradas. Esse preconceito, fruto da ignorância, conduziu a oscilações de política nocivas por não garantirem a estabilidade do quadro estratégico indispensável para um planeamento de longo prazo, tanto quando os incentivos eram reduzidos por não serem indústrias "high tech" como quando os facilitavam por descobrirem que, afinal, inovação, tradição e exportação rimam entre si.
A economia de um país não se altera por decreto. Por mais investimento que se tenha feito na qualificação, continua a ser preciso encontrar emprego compatível com as habilitações e aptidões de uma parte substancial da população que a não tem. Mesmo que todas as empresas fossem bem geridas, e não o são, os salários estão limitados pelo valor do que é produzido. É uma regra objectiva e não de vontade. Tentar iludi-la conduziria as empresas à falência e ao aumento do desemprego. Goste-se ou não, as empresas dos sectores ditos tradicionais continuam a desempenhar um papel duplamente importante, ao providenciarem emprego a quem, de outro modo, teria dificuldade em o encontrar, e ao manterem uma dinâmica que, não obstante todas as dificuldades, permite atenuar o saldo comercial negativo do país.
Não sejamos cegos, porém. A realidade, mesmo devagar, vai mudando. As pessoas têm outras competências e ambições. A concorrência esmera-se. Os mercados tornam-se mais exigentes. O negócio não será (não é) como era. O passado não serve para projectar o futuro. As indústrias de que temos estado a falar continuarão por cá, mas as empresas terão de mudar, como tem vindo a acontecer com aquelas que, justamente, têm recebido o reconhecimento dos mercados.
O novo Norte faz-se destas empresas e de todas as outras que têm estado a emergir numa multiplicidade de outros sectores. Na sua maioria são empresas muito pequenas. Para terem impacto será necessário que se multipliquem e mantenham a orientação para o mercado externo das suas irmãs mais velhas.
Para ser diferente, essa dinâmica tem de ser policêntrica, não ignorando as diferenças, mas não ostracizando o interior, nem caindo no extremo oposto de o tratar como "coitadinho", aligeirando o rigor. Tem de ter um cariz colectivo, feito de confiança recíproca que envolva as empresas e as suas associações, universidades, municípios e outras entidades regionais. Talvez seja preciso um líder que a inicie. Alguém, como a seu tempo foi Valente de Oliveira, a quem se reconheça que não o faz por vontade de poder ou protagonismo. Na ausência de poder regional, será importante quem seja capaz de unir os pontos e atar os nós. E lançar as pontes com as outras regiões criando com elas uma relação de confiança. Poderá esse alguém emergir da actual classe política? Tantas são as divisões e guerras fátuas que tenho as maiores dúvidas. Uma direcção da CCDRN que nasce fraca, também não alimenta expectativas. Cumpre-lhe surpreender!