Chamem a Polícia2011-10-04
1.Os Ig Nobel são uma espécie de réplica bem-disposta aos prémios Nobel propriamente ditos. Atribuídos a cientistas cuja investigação nos faz, inicialmente, rir e, depois, pensar, têm, como os legítimos, também o Ig Nobel da Paz. Este ano, o prémio foi atribuído ao presidente da Câmara de Vilnius pelo método usado para dissuadir o estacionamento, em cima do passeio, de carros de luxo: passar-lhes por cima com um carro de combate. Nem mais, nem menos. Se o método fosse por cá adoptado, seria preciso reforçar a encomenda que, ao que se diz, o exército insiste em fazer, de viaturas que, de outro modo, o comum dos mortais tem dificuldade em entender.
A forma como se estaciona diz muito sobre o civismo das pessoas, o seu respeito pelos outros, incluindo as autoridades policiais. Assim à primeira vista, diria que o estacionamento desregrado tem vindo a aumentar atingindo, por vezes, extremos que só o sentimento de impunidade pode justificar. Os leitores do resto do país que me desculpem pelos exemplos serem do Porto e arredores. Um caso caricato acontece no parque de estacionamento da Cordoaria em que, não raro, é preciso manobrar com cuidado na entrada por haver carros estacionados (em local de paragem proibida) até à rampa de acesso. Nunca lá vi ninguém multado. Sendo o parque em causa caro, como devem ser os que estão no centro da cidade, o crime compensa: se a probabilidade de ser multado for baixa, o que se poupa em estacionamento pago cobre a multa ocasional. Ao não actuar, as autoridades dão, também, um sinal errado a quem cumpre e a quem investiu na exploração do parque - uns tansos! Muito pior, não cumprem e contradizem, mesmo, a sua missão que, pelo contrário, deveria ser indutora de comportamentos cívicos exemplares.
Na situação descrita, ainda se pode argumentar que, salvo os dois ou três últimos carros, que atrapalham, o resto é excesso de zelo de quem estabelece as restrições de estacionamento. É verdade que, muitas vezes, é difícil discernir a lógica de certas restrições. Noutros casos, porém, essa desculpa não serve. O estacionamento sem regras (selvagem é, mesmo, a palavra certa!) revela, em geral, falta de respeito por terceiros. Ao condicionar a fluidez do trânsito, tem custos económicos consideráveis. Cria, com frequência, tensões e atritos desnecessários. Pode pôr em causa a vida dos peões, quando se faz antes das passadeiras, tapando a visibilidade de quem circula, como acontece na Rua Serpa Pinto, em Matosinhos. Nas situações descritas, as autoridades têm o dever de ser impiedosas. Não o sendo, fica a sugestão a Rui Rio e a Guilherme Pinto: convidem o presidente da Câmara de Vilnius a vir cá dar um passeio no seu carro...
2. Quando a ligação de Aveiro ao Porto se podia fazer por uma via SCUT, ninguém se admirava que fosse preferida à portajada A1. O caso dos alunos que usaram o ensino recorrente para entrar na universidade é semelhante. Serão "chico-espertos", sem ética ou escrúpulos, tal como algumas das instituições de ensino que os acolheram e nem tiveram pejo de vir à televisão anunciar o seu "sucesso". No entanto, o grosso da culpa está com quem, incompetente, criou, e manteve, esta SCUT de acesso ao Ensino Superior sem cuidar de antecipar consequências. Mas, já agora, seria interessante saber que classificações tiveram, no primeiro ano do curso, os que no ano passado recorreram (de recorrente?!) ao mesmo expediente. Se tiveram sucesso, não será a prova provada de que as regras de acesso devem ser mudadas?
3. O Banco de Portugal, o FMI, o Governo andam todos preocupados em criar as condições para que a Banca aumente a sua capacidade de conceder crédito sem que, com isso, ponha em causa a sua solidez. Uns acham que é um problema de reforço do capital. Outros de liquidez. Nada disso! Segundo António José Seguro, é um problema de responsabilidade social: se os bancos fizerem uns sacrifícios, podem injectar mais recursos na economia. Candidato a prémio Nobel! Pelo menos Ig...
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