1. Mesmo quem não é do Porto já terá
visto, ouvido ou lido sobre o estado de degradação a que chegou o mercado do
Bolhão. Houve, até hoje, vários projectos, mais ou menos caros e polémicos,
para resolver o problema. Por uma razão ou por outra, nenhum avançou. Com o
passar do tempo, a situação tem-se vindo a agravar, atingindo um estado
crítico. A intervenção tornou-se ainda mais urgente, logo numa altura em que os
recursos mais escasseiam. Paradoxalmente, talvez tenham sido estas
circunstâncias extremas a facilitar um acordo entre Rui Rio e o Partido
Socialista para a viabilização de uma requalificação simplificada que trouxesse
o orçamento para níveis dentro das possibilidades financeiras da Câmara do
Porto. Esta alternativa foi recusada pela Direcção Regional da Cultura do Norte
(DRCN) para quem "os projectos, em especial os de recuperação e
reabilitação de imóveis classificados, não podem ser feitos 'a metro' ou 'a
retalho". Sustentar a alteração "apenas no argumento financeiro pode
significar hipotecar irreversivelmente a possibilidade de transformar o Mercado
do Bolhão num mercado para o século XXI ou adiar a sua morte". Resumindo:
mais vale o Bolhão ruir com dignidade do que ser adulterado. O argumento
financeiro é um "apenas". De somenos importância. Os mercados
(estes!) morrem de pé. Não sei o que seria de nós sem estes zelosos defensores
do património e cultura.
2. Para não dizerem que só falo do
Norte, a segunda história passa-se numa praia de Loulé. Aos fins-de- -semana,
com a maior afluência de banhistas, lá aparece um par de GNR que procura
disciplinar o estacionamento. Manhã cedo, dispõem uns "pimenteiros"
no asfalto, impedindo que se estacione no meio de um pequeno largo e nas bermas
de uma rampa que dá acesso a dois outros espaços de estacionamento, em terra
batida (e esburacada). Estacionam a respectiva viatura e ali ficam, vigilantes
ao que se passa no... asfalto. A palavra--chave é "asfalto". Privados
de alguns dos lugares em que costumam estacionar, os automobilistas vão-nos
inventar nos parques em terra. Aí reina o caos. Nada que preocupe os zelosos
agentes de autoridade: desde que, à sua frente, a circulação se processe
ordeiramente, tudo está bem. Descer à terra, literalmente, não é com eles.
Talvez não tenham orçamento para engraxar as botas!
3. Como de costume, o desempenho dos
atletas portugueses nos Jogos Olímpicos foi pretexto para polémica. Cada cabeça,
sua sentença: esteve ao nível de competições anteriores, foi pior ou melhor.
Houve de tudo, como antigamente se dizia das farmácias. Não faltaram, sequer,
declarações de alguns inefáveis dirigentes desportivos que, aproveitando os
seus dez minutos de fama, descobriram que Portugal não estaria como está se
todos fossem tão competentes no que fazem como os nossos atletas olímpicos. E
só não são melhores por o Estado não lhes dar o apoio (leia-se subsídios) que
merecem. É claro! Entretanto, as famílias de dois atletas americanos,
vencedores da medalha de ouro, endividaram-se até à falência para apoiar a sua
preparação. Faltaram--lhes dirigentes desportivos e uma ajuda do Estado à
altura.
4. Há, porém, quem não aprenda e vá
fazendo pela vida, sem esperar pelo Estado. Munna e Boca do Lobo dizem-lhe
alguma coisa? São empresas de mobiliário. Sofisticado, cosmopolita e que, por
isso, anda na boca do mundo. A Munna é finalista, com uma poltrona e um sofá,
em duas categorias de um prémio internacional de design de produtos de
interior. Pode saber mais, e votar, em
http://thedesignawards.co.uk/products/voting-2012.html . A Boca do Lobo viu uma
das peças mais icónicas ser escolhida para capa do suplemento de luxo "How
to Spend it" do jornal "Financial Times". Fazem parte de uma
geração de empresários que tem contribuído para a revitalização da indústria de
mobiliário que, quem diria, conjuga requinte e qualidade com a recuperação do
saber fazer tradicional, quantas vezes artesanal, e que aspira à projecção
internacional. Mais um exemplo de que tradição pode rimar com inovação.
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